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Meu Natal

Sou moderadamente infeliz, mas não sou ateu. O ateu não se preocupa com Deus porque decidiu que ele não existe. Eu, mesmo que através de binóculo, tento enxergá-lo.
O Presépio é aquilo que a realidade tumultuosa recusa. Não há lei, nem força convencional, que detenha por um instante a sua divina embriaguez que o mundo dos cálculos não pode suportar. O homem jamais será capaz de comunicá-lo com totalidade. Os maiores doutores foram capazes apenas de expressar algo suficiente sobre o Verbo ter se feito carne no ventre de uma virgem. No Presépio, a pureza do amor é reencontrada em sua verdade íntima. Há mais de dois milênios, o nascimento do Menino Deus ecoa como um feixe múltiplo. O amor do menino Jesus é um amor de morte na cruz. A morte e o nascimento são signos do instante humano. Deus nasceu, morreu e ressuscitou. O Pai de Adão assumiu a nossa carne.
Há poucos dias, fui convidado para conversar durante alguns minutos sobre o Natal. Muitos só enxergam o espetáculo e não param para refletir que fui convidado para falar sobre o nascimento de Deus, que se fez carne no seio virgem de Maria, cumprindo assim as escrituras do Antigo Testamento. Correr o risco de esquecer um detalhe sobre a encarnação do Verbo ou de falar uma heresia faz com que eu não toque jazz. Fico deslocado quando tenho que tocar uma partitura. Nesse tema, o tempo urgiu ainda mais. Não consigo descrever esse Deus que nasceu em condições materiais piores que a do nosso SUS. Nos tumultos persistentes do meu espírito, não posso dar às minhas idéias mais que uma expressão obscura. Aceitei esse convite porque não quero ser morno.
O Natal é um nascimento que se faz de fora para que nos interroguemos por dentro. A mensagem do Natal não é a de um mundo de paz. É exatamente o contrário. Sua mensagem encarnada é a de que a humanidade não pode salvar a si mesma. No Natal, celebramos o acontecimento central da história: a Encarnação do Verbo divino. Falar do Presépio é abordar o episódio que dá sentido ao Mundo. Quando você acha que é fácil falar sobre o mistério do Natal você já está paganizado. Nessa pura existência sensível há os ludibriados pela sedução das grandes comemorações. Acham que falam do Natal, mas conversam sobre vícios e recusas. Pautados pelas leis da sociabilidade e da polidez convencional, são incapazes de remeter-se à consciência de si. Esquecem que o menino ainda será chagado.
Sem o Natal, a vida é a própria morte.
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